Friday 28 March 2008

Os pequenos porquês...

O primeiro porquê que vos deve vir à ideia é "Porque carga de água é que está uma foto do Lusitânia Expresso a ilustrar este post????"

Pois... esse é mesmo o início de todos os porquês a nível da minha vida que me trouxeram até onde estou hoje! Já vai longínquo o ano de 1991 em que se deu o Massacre do Cemitério de Santa Cruz que voltou a colocar Timor-Leste nas televisões do mundo e que levou a uma onda de protestos que colocaram Timor na posição em que está hoje.
Mas este post não é para dissertações filosóficas acerca da situação política do Timor de hoje, e sim sobre mim, o José Rodrigues dos Santos, Timor ainda sob regime indonésio e a viagem do Lusitânia Expresso...

Na altura o Lusitânia Expresso partiu em direcção a Timor, com muita imprensa a bordo (incluíndo um novíssimo José Rodrigues dos Santos, recentemente catapultado para a fama por uma Guerra do Golfo -a primeira, a do Bush Pai... - que começou em directo durante a emissão do 24 horas que ele apresentava) e muita esperança. Chegar a Timor e conseguir entrar em àguas territoriais (na altura indonésias) e levar uma mensagem de esperança! Estava eu nesse mesmo ano no 9º ano de escolaridade, na Escola Secundária do Feijó, área A - Saúde, e cheia de vontade de enverdar por uma carreira em medicina!

Lembro-me perfeitamente do momento em que de repente tudo mudou! Algo fez click dentro de mim, e passados alguns meses estava a inscrever-me no décimo ano, na Escola Secundária do Feijó, àrea H - Humanísticas (vertente de Administração Pública e Relações Públicas) para grande desgosto do meu professor de Matemática - sim eu era boa aluna a matemática e tudo!!! :)

Mas o momento que ainda hoje me está marcado na memória é o seguinte - o José Rodrigues dos Santos no convés do Lusitânia Expresso, Timor Leste ao fundo e entre a esperança trazida pelo Lusitânia Expresso e Timor uma série de embarcações indonésias a proferirem ameaças para o caso de o barco entrar em águas territoriais indonésias sem autorização, a viagem terminou ali e o Lusitânia Expresso teve que voltar atrás sem chegar a Timor, mas tudo mudou a partir daí! Foi durante uma emissão em directo de um qualquer Telejornal, mas lembro-me do click e de pensar - EU QUERO FAZER ISTO! ARRISCAR A MINHA VIDA PARA MOSTRAR AOS OUTROS O QUE SE PASSA NO MUNDO! LUTAR CONTRA AS INJUSTIÇAS EM DIRECTO NA TELEVISÃO! - levantei-me e disse: "Eu quero ser jornalista!".
Pronto, dêem lá o desconto... Eu tinha 15 anos, o muro só tinha caído há 3 anos, os meus pais estavam em processo de separação, e tudo era idealismo acerca do que seria a profissão nobre de um jornalista! Que lutava contra tudo e contra todos, arriscava a vida, mas o que interessava era a VERDADE, e mostrar ao mundo o que se passava na realidade na nossa sociedade: a fome em África, as inverdades dos políticos, as injustiças do mundo, a vida para além da Guerra Fria... Enfim! :) TINHA 15 ANOS!!!

Como já devem ter reparado não sou jornalista, nem sequer tirei o curso de Comunicação Social! No já longíquo ano de 1995 quando andei numa roda viva da prova de aferição (tinham sido anos ao rubro e a PGA tinha caído e provisoriamente tinha regressado a "aflição", as propinas estavam prestes a ser suspensas) de Filosofia, e três provas específicas (Português, História e Geografia) para conseguir abrir o leque de opções - Comunicação Social na Nova sempre em primeiro lugar, e num recôndito quinto lugar um novo curso - Relações Públicas na Escola Superior de Comunicação Social, que eu nem sabia muito bem onde ficava tal Universidade!
Depois de um Verão quente, como já não havia há muito tempo, depois do meu primeiro emprego de verão, chega o mês de Setembro, os corropios e finalmente chega o telefonema da minha mãe para me dizer se tinha entrado ou não! ANSIEDADE! E de repente o terror:
Mãmã: ENTRASTE! PARABÉNS!!! :D
Eu - Onde??? Na Nova??
M. - Não! Entraste em Relações Públicas na Escola Superior de Comunicação Social! EXCELENTE! PARABÉNS! (sorrisos, alegria...)
E. - O QUÊ? (lavada em lágrimas...)
M. - Então! Mas estás a chorar? Tanta gente que está a chorar porque não entrou e tu choras porque entraste?

E pronto! Foi um mar de lágrimas! E devo ser das poucas pessoas na história que quase teve um ataque histérico de tristeza porque tinha entrado na Faculdade... Sim, falhei por décimas as opções de Comunicação Social e Relações Internacionais, mas ao final de um ano na ESCS estava conquistada e como o idealismo já não é o que era, o estar do outro lado do pano, do lado que faz a notícia e não do lado que a veícula cresceu dentro de mim e até hoje estou conquistada!

E agora outro porquê! "A que propósito é que vem tudo isto???"

Ia eu no carro de manhã a ouvir a TSF (para variar um bocado - o bichinho das notícias e da reportagem ficou sempre comigo!) e num dos promocionais sobre os 20 anos da TSF ouve-se a voz de Xanana Gusmão a falar sobre a importância da cobertura noticiosa dada à viagem do Lusitânia Expresso (nomeadamente a cobertura dada pela TSF) e que ajudou a precipitar uma série de acontecimentos...

É verdade um bater de asas, umas vozes àsperas no outro lado do rádio no Mar de Timor, um jornalista em equilíbrio instável no convés de um navio do outro lado do mundo e tudo o que adveio daquele momento... Curioso... :)

Bjs,

arlc, não sou jornalista mas sou blogguista! :)

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